Criança faz trabalho escolar com regras
de universidade
Colégios particulares
paulistas adotam atividades com padrões da ABNT
Normas como índice,
sumário e referência bibliográfica já são exigidas de alunos de nove anos de
idade
JULIANA COISSI
DE RIBEIRÃO PRETO
Gabriel Medeiros Santos e Silva, 12, sempre gostou de usar o computador para criar desenhos ou colocar fotos nos trabalhos escolares.
Desde o ano passado,
o aluno do colégio Vita et Pax, de Ribeirão, passou a se ocupar também com
termos típicos de quem frequenta a faculdade, como índice, sumário e referência
bibliográfica.
Colégios particulares
paulistas têm exigido até de alunos de nove anos que sigam no trabalho escolar
os padrões metodológicos previstos na ABNT (Associação Brasileira de Normas
Técnicas).
"Por um lado
começa cedo a saber das regras, mas acho que é demais, pela idade. Eles não têm
tanta maturidade", diz a mãe de Gabriel, a funcionária pública Maristela
Medeiros Santos da Silva.
Pelo menos oito
escolas particulares da capital e interior ouvidas pela Folha adotam a
exigência.
Na maioria dos
colégios, diretores dizem que a necessidade de preparar alunos para a
universidade é o que mais motiva a cobrança precoce.
E, por precoce,
entenda-se crianças de nove e dez anos, das antigas 3ª e 4ª séries.
Neste ano, o colégio
Sérgio Buarque de Holanda, do sistema Anglo, na capital, começou a ensinar
regras da ABNT também aos menores.
Mesmo nos trabalhos
manuscritos, as crianças precisam seguir o padrão. Se usam um desenho para
ilustrar o trabalho, por exemplo, devem fazer a devida citação da fonte na
parte final.
Segundo a diretora
Cibele de Fátima Devasa Ferreira, alguns pais já reclamaram da cobrança das
normas para turmas de alunos menores.
"Alguns dizem:
'É absurdo, só fui aprender isso na faculdade'. Mas a maioria elogia e diz que
queria ter aprendido cedo também."
No Miguel de
Cervantes, na capital, alunos do ensino médio já estão acostumados a palavras
como monografia, professor orientador e anais, típicas do meio acadêmico.
Uma vez por ano,
fazem em grupo uma monografia, sob o rigor da ABNT, assim como os demais
trabalhos.
"O ganho é
antecipar para esses meninos exigências que a universidade tem e prepará-los em
um espaço mais protegido [o colégio]", afirma a coordenadora do ensino
médio Kátia Pupo.
'RIGIDEZ'
No colégio Sidarta,
foram os ex-alunos, calouros de faculdade, que sugeriram à escola exigir as
normas da ABNT.
No Marista
Arquidiocesano, a exigência das normas só ocorre no ensino médio. Antes, seria
a "rigidez pela rigidez", afirma a diretora, Marisa Ester Rosseto.
"Nessa idade
[ensino fundamental], temos tantas coisas para desenvolver que não [precisa
ser] algo tão rígido."
Adotam ainda a ABNT a
partir do 5º ano do ensino fundamental os colégios São Luís, na capital, e, em
Ribeirão, Liceu Contemporâneo e Santa Úrsula (este apenas em uma das
disciplinas).
A exigência de
padrões deve respeitar os limites de casa faixa etária, segundo Maria Márcia
Sigrist Malavasi, docente da Unicamp.
Acho fundamental os alunos aprenderem cedo a usar as regras da ABNT para citar fontes. Isso pode ajudar os alunso a compreender as diferenças entre copiar, citar e parafrasear. Também a incorporação das regras da ABNT pode ajudar os aprendizes a entender que pesquisar não pode se resumir a control C, control V, control P. Agora a idade certa, isso é por conta de cada escola e cada professor. Se o aluno demonstrar habilidade e interesse, mesmo com 9 anos de idade, não vejo nada demais.
ResponderExcluirTambém penso ser importante que os alunos aprendam, desde cedo, as normas da ABNT para mencionar as fontes pesquisadas... Quando nos deparamos com os alunos em início de curso no ensino superior, percebemos que há uma distância entre o ensino escolar e a vida acadêmica...Os alunos, em toda sua vida escolar, costumam produzir resumos e resenhas fazendo cópia fiel da obra lida. E o pior: os professores não demarcam essa cópia como um problema a ser resolvido...
ResponderExcluirConcordo com os comentários anteriores. Levar o aluno a preocupar-se com a citação de fontes já no ensino básico pode evitar que ele chegue à universidade e, posteriormente, à vida profissional com "vícios" na produção textual no que se refere às cópias e plágios. E, dependendo de como e de quais regras são cobradas, estas exigências não são complexas para alunos de ensino fundamental. Acho que essa tendência tem mais a enriquecer os trabalhos do que a prejudicar, de algum modo, os alunos.
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