Aldo Bizzocchi
[Texto extraído da revista Lìngua Portuguesa]
Dálmata não é só uma raça de cães. É também (ou melhor, foi) uma língua românica falada na região da Dalmácia, mais ou menos onde hoje fica a Croácia. O dálmata, ou dalmático, é uma das poucas línguas cuja morte tem uma data bem definida: 10 de junho de 1898. É que nesse dia morreu Antonio Udina, o último falante do idioma. Na verdade, o dálmata morreu como língua bem antes disso. Afinal, se Udina era o último falante, no fim de sua vida ele já não tinha mais com quem falar.A sorte foi que, pouco antes de morrer, Udina foi entrevistado pelo linguista italiano Matteo Bartoli, que documentou a língua e mais tarde publicou um livro com sua descrição. Mas quando Bartoli fez isso, a língua dálmata já era um morto-vivo: um conjunto de vocábulos e regras gramaticais que já não servia para nenhuma comunicação. Como o dálmata, centenas de idiomas de pequenas comunidades estão morrendo dia após dia, ou porque seus membros estão deixando de usá-las em favor de línguas hegemônicas como o inglês e o espanhol, ou porque seus últimos falantes estão morrendo. A morte dessas línguas é como a extinção de espécies vivas. Com a única diferença de que, se documentadas a tempo, elas podem ser ensinadas na escola e com isso um dia voltar a ser faladas. Mesmo assim, de modo bem artificial.
Morrem os falantes, morre a língua. Ainda tem quem acredite que a língua é propriedade de alguns poucos "privilegiados". Esse Udina não fazia nada com essa língua dalmática sozinho.
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